O implante da Neuralink na visão de um neurologista
Fevereiro iniciou com um barulho enorme nos noticiários, causados por um anúncio da empresa Neuralink, sociedade comercial neurotecnológica americana estabelecida por diversos fundadores
Fevereiro iniciou com um barulho enorme nos noticiários, causados por um anúncio da empresa Neuralink, sociedade comercial neurotecnológica americana estabelecida por diversos fundadores, entre eles Elon Musk. Os estudiosos da empresa afirmam que com apenas um implante no cérebro é possível realizar verdadeiras transformações de vida, com o objetivo de que, no futuro, pessoas com limitações motoras possam controlar dispositivos eletrônicos, como computadores e celulares, apenas com o pensamento.
Pelo fato da pesquisa ainda estar em andamento e precisar de vários testes, falar que tudo está totalmente certo é se precipitar. O neurologista Dr. Matheus Wasem, especialista em Esclerose Múltipla, respondeu algumas perguntas e nos explicou melhor sobre o assunto.
Você poderia explicar como o implante da Neuralink pode potencialmente melhorar a qualidade de vida dos pacientes?
Dr. Matheus Wasem: O implante da Neuralink visa conectar cérebro e máquina. Isso tem a promessa de fazer as pessoas controlarem dispositivos eletrônicos apenas com o pensamento. Já existem dispositivos que ajudam pacientes com sequelas neurológicas a se comunicarem e serem um pouco mais independentes, como dispositivos controlados pelo movimento dos olhos, pelo piscar, por mínimos movimentos das mãos.. Mas nenhum até hoje conseguiu conectar pensamentos ao comando de aparelhos, é o que promete o dispositivo da Neuralink.
Como você acha que o Neuralink pode impactar diretamente os pacientes com esclerose múltipla?
Dr. Matheus Wasem: As possibilidades são gigantes. Mesmo pacientes com poucas sequelas neurológicas poderão se beneficiar. Imagina associar o neuralink com uma órtese de exoesqueleto? Você voltaria a comandar o movimento das suas pernas apenas com o pensamento. O paciente voltaria a ser independente pois poderia ter de novo o controle sobre seu corpo e o controle sobre todos os dispositivos eletrônicos ao seu redor.
Como você vê o papel da neurotecnologia, como da Neuralink, na pesquisa e tratamento da esclerose múltipla no futuro?
Dr. Matheus Wasem: Na Esclerose Múltipla temos basicamente três grandes necessidades:
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Diagnóstico
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Tratamento da doença
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Reabilitação das sequelas
Os dispositivos neurotecnológicos possuem poder de auxiliar os pacientes que têm Esclerose Múltipla a superar suas sequelas neurológicas, contribuindo assim no item número 3 que é o da reabilitação de sequelas.
Quais são os desafios técnicos ou práticos que você antecipa na implementação bem-sucedida do Neuralink em pacientes com esclerose múltipla?
Dr. Matheus Wasem: Além do desafio principal que é de fato conseguir fazer essa conexão entre pensamentos e ações, no caso específico da Esclerose Múltipla, devemos ter cuidado na indicação pois nem todo paciente pode estar preparado para receber este dispositivo. Deveríamos avaliar caso a caso, as sequelas existentes e a localização de suas manchas cerebrais, para avaliar se o paciente tem um cérebro compatível com o dispositivo. Além disso, o material do dispositivo necessita ter componentes compatíveis com a ressonância magnética, que é uma rotina nos pacientes que têm EM.
Como você vê a aceitação e adoção do Neuralink por parte da comunidade médica e da população em geral?
Dr. Matheus Wasem: Ainda é algo muito inicial e experimental. Foi apenas o primeiro caso da história. Ainda existe um gigantesco caminho a se percorrer para avaliar a segurança e os resultados práticos deste tipo de intervenção. Como toda novidade, devemos manter as esperanças, mas ser realistas nos resultados adquiridos.
A comunidade médica sempre se baseia em evidências científicas. Não podemos estimular ou aplicar tratamentos, intervenções ou procedimentos sem o respaldo científico adequado. Como toda inovação, começa-se aos poucos. Espero que este seja o primeiro caso de muitos e que em alguns anos o NeuraLink se prove a maior inovação tecnológica de todos os tempos, ajudando a conectar pessoas às tecnologias e assim superar sequelas e limitações neurológicas.